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sábado, 18 de julho de 2020

A B A Í B A

Por José Mauro Xavier de Moraes 

                     Em Tupi Guarani Abaíba quer dizer terra do noivo. No meu coração Abaíba quer dizer terra da Paz, do Amor e da Saudade:

Por que Terra da Paz? Porque Abaíba sempre foi a Paz da minha infância, das brincadeiras dos amigos, dos primos de quem tenho saudades. Saudades das minhas professoras, madrinha Odete, D. Nana minha prima e da D. Pompéia, esposa do meu primo José Lima. Sempre vou lembrar da revolta do Renato Luciano quando ouvia o cantar das cigarras que anunciavam as provas de fim de ano. Sempre vou lembrar das peladas na hora do recreio da escola ou atrás da estação.     

Abaíba do meu coração quer dizer Terra da Saudade. Saudades da minha adolescência, dos dias que antecediam a chegada dos amigos em férias, para jogar as peladas. Que bom lembrar do amor com que defendíamos a camisa do time de Abaíba , sem cores, mas definida às vezes com as camisas do Vasco ou do Botafogo, tudo dependia de quem era o tomador de conta do time e não presidente como hoje.

Abaíba sempre será, no meu coração, terra da saudade e do amor, pois toda época, cada um que chegava era uma festa; as meninas... mas sempre eram elas que traziam a alegria em nossas vidas; aí vinham as brincadeiras dançantes que chamávamos de “cutuca”... Que gostoso sentir a expectativa da chegada da Festa, era apenas uma por ano , mas elas eram diariamente sentidas em nossos corações.

O respeito aos nossos tios e tias :  Dagmar, Tide, Cici, Luiza, Inire, Cotinha, Ruth, Dé, Geraldo, Alcides, Jader, Isaac e o papai Coronel Totônio. Recordo da alegria dos irmãos quando na véspera de uma festa de Santa Izabel chegava o Tio Alcides, do Rio de Janeiro. Só faltavam fogos de artifício pois tudo o mais havia, lágrimas, sorrisos e abraços. Do vovô Archimedes, fazendo as barracas; o Didi de Souza, ornamentando; as moças , preparando as bandeirinhas...A nossa ansiedade era tanta que os dias pareciam anos antes de chegar o tão esperado Dia dos Festejos.

E aí chegava o grande dia: a Alvorada, geralmente com a banda de música de Pirapetinga, a 27 de Março, com seu imponente maestro Arandir,  anunciava o início da festa, missa solene às 7 horas, dia da Primeira Comunhão das crianças que já se preparavam há meses; às 10 horas missa festiva em homenagem a Santa Izabel e aí o funcionamento de barracas, leilões de mesa e de gado, e o grande momento esperado :  o Jogo de Futebol, onde todos “brigavam” por uma vaga para se apresentarem para os fanáticos torcedores.

E todos participavam da Procissão de Santa Izabel, demonstrando sua Fé.

Finalmente o baile, o único do ano mas sempre valendo por muitos bailes. A orquestra convidada era de destaque na região. E ali dançávamos, havia as paqueras, os namoros, início de muitos romances e foi dali que saíram muitos casamentos. 

Hoje chego em Abaíba e não encontro todos os amigos, os tios. Não há mais o encontro do amor antigo tão procurado, as casas estão vazias desses entes queridos e hoje habitada por novos moradores. E aí volto triste,  com os olhos cheios de lágrimas, pois não encontrei , na nossa casa azul e branca,  a minha casa do amor, da felicidade florida, mas sim vejo triste, tristeza que já faz um ano.

Mas aceito, pois sei, como espírita que sou, eu tenho certeza da continuidade da vida e um dia nos reencontraremos novamente.

Só posso pedir aos meus filhos que, quando chegar o momento, o meu corpo descanse em paz em Abaíba, e terei, assim, como um travesseiro, a terra que tanto amo.  

   ( in Mar de Morros - nº 143 - editado por Aníbal W Freitas )